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Falar de cor ao versar de Almodóvar é fazer poesia com plasticidade e sentidos. Mas não é de qualquer cor que falo, é do vermelho, mas não é qualquer vermelho. É daquele enrubescimento que nasce no ventre, nas entranhas, e afogueia a pele. É do desejo esbraseado dos amantes que se tocam em volúpia. É da ira escarlate que tinge as têmporas do traidor e cora as bochechas do traído. É o carmesim sem moral, sem pudor e sem gênero. É o sangue que verte na dor, no amor e na alma, no impulsivo do desejo. Desmedido na dor, impetuoso na raiva, lascivante no riso. Esta é a cor que nos interessa neste palco, em nossa dança. Este binômio que depois de descoberto parece indissociável, este rubro-almodóvar.

Rubro-Almodóvar é um espetáculo de dança que evoca o universo do cineasta espanhol dando destaque para aspectos frequentes da sua obra: o feminino em primeiro plano, até mesmo quando seus protagonistas são homens, a sexualidade, transgressão de gêneros, crítica à Igreja e contracultura madrilenha (sua herança da adolescência).

Falar de Almodóvar não é somente capricho plástico, mas estético. Suas questões humanizam figuras normalmente tratadas como pairas sociais e resumidos a clichês. Em tempos de intolerância ter Almodóvar como inspiração pode ser libertador.

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